Decorria o ano letivo e, nos meus planos para a paragem letiva do verão, estava
prevista nova deslocação a Moçambique, desta vez por quase dois meses.
Entretanto, do outro lado do hemisfério chegava um email com um pedido muito especial - equipar as camas de um
internato em Maputo – na missão de São José de Lhanguene, que na altura
albergava 55 rapazes. Urgia esta mudança, depreendi pelas palavras daquela
mensagem que me impressionou pela simplicidade e humildade da solicitação.
Conhecia alguns daqueles jovens do verão anterior. Tinha estudado com eles,
brincado com eles mas, sobretudo, conversado com eles, ouvindo histórias de uma
curta mas complicada vida, sem família, sem casa, sem meios para estudar até
serem acolhidos naquela que agora era a sua casa e reunidos numa grande
família. Via-os limpar e tratar das camaratas, pintar as camas e cuidar do seu
pequeno espaço como se fosse um quarto de hotel. Todavia, apercebi-me que os
colchões eram pedaços de esponja, os lençóis e as cobertas das camas estavam
gastas pelo uso e pelo tempo. Senti-me impotente pois nada podia fazer. Porém
uma ideia pairava na minha cabeça. Contar com os meus amigos e a minha família
seria uma boa ajuda mas eram precisos cerca de 4 565€ para remodelar as 55
camas, sendo o valor previsto para cada uma delas de cerca de 83 €!
No início, quando me lançaram o desafio, fiquei apreensiva, pois
tratava-se de uma quantia considerável e sabia que não podia contar somente com
a boa vontade da minha família e amigos. Por outro lado, sentia-me
desconfortável quando ia junto das pessoas e lhes falava do meu projeto,
temendo que me considerassem demasiado ousada, pedindo para algo que não sabiam
se era verdadeiro. E uso a primeira pessoa, pois era a mim que tinham confiado
a missão e teria que contar comigo mesma. Não tenho, como muitas figuras
públicas, uma posição que me permita levar a cabo uma campanha para angariar
fundos. Nem por isso baixei os braços, antes pelo contrário, ergui a cabeça, em
busca de uma meta que eu própria estabeleci.
Muita gente oferecia-me o material para enviar para Moçambique. Todavia,
conheço os entraves que se colocam ao envio de um contentor - os preços do
aluguer e da deslocação, as burocracias na alfândega, acrescidas do preço a
pagar, quando se conseguem verbas, pois quando não se conseguem os contentores
são simplesmente esvaziados do seu conteúdo e, todo o esforço é em vão!
Portanto, o caminho que tomei foi o de angariar dinheiro para poder comprar lá
os materiais, até porque se faz circular a moeda no próprio país. Curiosamente,
julgo que foi nessa altura que passou a reportagem da jornalista Conceição
Queirós, da TVI, acerca dos esforços feitos, aqui em Portugal e depois em
Angola, para fazer chegar à Jamba Mineira, tantos donativos angariados e que,
infelizmente, nem chegaram todos, nem ao local desejado. Percebi a sua
frustração e a dos que contribuíram. Infelizmente é assim, quando não é pior!
É curioso como a força de vontade move montanhas! Elaborei um projeto, com
os dados que me tinham enviado, com fotos que possuía do local e escrevi
algumas cartas para entregar em empresas e entidades. A mensagem foi passando
de boca em boca, os panfletos de mão em mão, da minha escola para o exterior.
Até que um jornal da região, tendo conhecimento da iniciativa, decidiu publicar
uma entrevista sobre a campanha, o trabalho e as minhas tarefas por terras de
missão. Entretanto, e com alguma surpresa, recebi um telefonema na escola. Do
outro lado, alguém me colocou uma série de questões sobre o trabalho
desenvolvido enquanto voluntária e a campanha em curso para angariar fundos. No
final, identificando-se, o meu interlocutor referiu que estava a dar uma
entrevista em direto para a Rádio Renascença. Ao que parece a televisão pública
teve acesso a este projeto e eis que uma manhã o diretor da escola me anuncia
que dali a pouco a RTP visitar-nos-ia para tomar conhecimento do projeto e
recolher algumas informações. E assim, a campanha para equipar o internato de
São José de Lhanguene foi levada ao país, com testemunhos dos meus alunos e a
demonstração das iniciativas levadas a cabo. Depois da captura das imagens e de
testemunhos, o jornalista disse que a reportagem iria para o ar talvez no fim
de semana no "Jornal da Tarde". Com os meus afazeres e sempre a
correr entre escola-casa, as empresas, esqueci a entrevista dada naquela manhã
de quarta-feira. No sábado seguinte, estava a caminho de casa quando o
telemóvel começou a tocar insistentemente. Eram amigos, familiares e colegas
que me diziam: "Então está a passar uma reportagem sobre a tua campanha na
TV e tu não dizes nada?" Ao que respondi: "A sério! Que bom! É
verdade que me procuraram para captar umas imagens mas não sabia quando ia
passar!" Plagiando parte da expressão de Neil Armstrong "Foi um
grande passo". Não para mim, mas para os meninos de São José de Lhanguene,
em Maputo.
Alguns momentos não foram fáceis, o stresse estava tornar-se cada vez
mais forte mas o entusiasmo ia aumentando à medida que os dias passavam. A
solidariedade é um valor que felizmente ainda não foi esquecido no nosso país,
pelo nosso povo. Ainda que em época de crise, tantas pessoas contribuíram para
que os meninos do internato de São José de Lhanguene tivessem "Um doce adormecer
e um feliz amanhecer" - o slogan
da campanha.
Passados seis meses do início da campanha, ao fazer as contas, verifiquei
que o montante angariado quase duplicara o necessário. E, antes da minha
partida, uma parte já tinha sido enviada.
8 de julho de 2006
Era chegado o dia de mais uma partida. Se de um lado pesava, novamente, a
angústia de me saber fechada dentro de um avião por onze horas, do outro sentia
uma leveza incrível pois sabia que, passada essa que para mim é sempre uma “tormenta”,
estaria de novo em Moçambique, junto daqueles que deixara um ano antes e de
outros que iria conhecer.
Apenas três dias antes soubera quais os destinos que me estavam atribuídos
este ano, embora soubesse de antemão as tarefas a desenvolver – a formação de
professores e a elaboração de manuais de apoio aos manuais de Português para o
Ensino Profissional, bem como o acompanhamento das aulas e das salas de estudo
dos alunos das Escolas Profissionais dos Salesianos. Sabia também que, comigo,
partiriam mais duas professoras, uma de Português, outra de Matemática, de
Lisboa, que conhecera de passagem algum tempo antes, numa formação para
voluntários.
O meu destino, bem como o das minhas duas colegas, seria a Escola
Profissional da Moamba, a sul do distrito de Maputo, durante três semanas e
cerca de quatro semanas na Escola Profissional do Matundo, distrito de Tete (a
1600 Km de Maputo). As minhas companheiras passariam esse tempo na Escola
Profissional de Inharrime - Inhambane (a 400 Km de Maputo).
Encontrámo-nos no aeroporto, à hora combinada, juntamente com outro
voluntário que partiria por seis meses. Todavia, quis o destino que não
partíssemos nesse dia. O voo fora adiado para a manhã seguinte. Relembrei a
frase tantas vezes escutada no ano anterior quando algo esperado não acontecia:
“Há de vir, há de chegar”. Esta maneira de encarar as realidades, as
dificuldades não nos é característica mas faz parte do ser moçambicano e, como
“Em Roma sê Romano” nada melhor do
que enfrentar as coisas com tranquilidade, ainda antes de partir. Foi assim,
num estado de alguma ansiedade, sem perder o ânimo, que passámos esta noite de
espera, entre conversas e muitas, muitas perguntas…
Desta vez, e apesar de ser feita durante o dia, a viagem parece ter
custado menos. Hoje relembro que poucas foram as vezes que olhei para o relógio.
Entre a leitura, as conversas com os meus companheiros de viagem, uma empatia
criada com alguns dos passageiros que nos estavam mais próximos, o tempo foi
passando, sempre com o espírito já em Moçambique.
À chegada, desta vez já conhecia as contingências que nos esperavam e
tudo correu de forma mais agradável. Sabia, também, que alguém conhecido nos
aguardaria, sem muito tempo de espera pois as coisas tinham corrido bem. E lá
estavam duas pessoas, uma delas que conhecia e a quem soube bem dar um longo
abraço, embora passasse da euforia à desilusão quando me disse que partiria
dali a pouco para Roma. Mas logo a deceção inicial deu lugar ao entusiasmo que
ele próprio demonstrava, relembrando-me que, mesmo longe, estaríamos sempre
perto. Enquanto pelo meu rosto rolava uma lágrima, da sua boca ouvi as palavras
ternas e consoladoras: “Maria, muitos sucessos para ti. Sei que vais ter um
trabalho muito intenso pela frente mas tu sabes ultrapassar qualquer barreira.”
A nossa chegada à vila da Moamba deu-se por volta das 23 h. Pelo caminho,
os dois alunos que tinham acompanhado o Director da casa que nos fora receber,
para além de falarem pouco, adormeceram porque pelas 6 da manhã do dia seguinte
teriam que acordar, juntamente com os colegas, para mais um dia repleto de
aulas e das diversas actividades que têm que desenvolver.
A estrada que nos leva até esta vila, situada no interior do distrito de
Maputo, a 80 km da cidade é muito boa, se comparada por muitas outras que
percorremos mas, uma vez mais, a escuridão total é o seu traço dominante.
Lembrei-me que aqui se conduz pela direita e que tem que se prestar muita
atenção ao tráfego que vem da frente, às inúmeras pessoas que circulam a pé, de
bicicleta, sem contar com os animais que se atravessam na estrada, sem que
demos por eles, ou ainda um "chapa" avariado, sem qualquer
sinalização. Uma das regras de ouro, nestas circunstâncias, é circular sempre
com o pisca direito ligado para que os condutores possam identificar as
viaturas que circulam em sentido contrário. E todo o cuidado é pouco! Enfim,
tivemos uma viagem tranquila, embora pouco ou nada se visse.
À chegada à casa da comunidade, tivemos uma curta recepção, pois já quase
toda a gente repousava para dar continuidade às suas tarefas no dia seguinte.
Levaram-nos até à casa dos voluntários, dentro do espaço da escola. A entrada
foi surpreendente! Perante os nossos olhos desfilava um cenário quase dantesco!
Uma casa de banho rudimentar, alguns quartos com o mínimo indispensável. As
minhas duas colegas olhavam tudo com algum pavor. Confesso que também eu tive
uma surpresa. É que um odor estranho e muito forte pairava no ar. Este assemelhava-se
ao odor de bolor ou de excrementos. O cansaço era tal que acabámos por nos
dirigir, cada uma a um quarto, sem desfazer as malas e procurando descansar.
Tnham-nos dito que no dia seguinte não necessitaríamos de nos levantar
muito cedo pois deveríamos estar cansadas. Qual não foi o nosso espanto quando,
pelas 7 h da manhã ouvimos cantar o hino de Moçambique. Um coro de vozes,
essencialmente masculinas mas afinadas entoava, numa melodia própria, palavras
que demonstram bem a idade ainda jovem deste hino. De o ouvir todas as semanas
ficaram-me bem gravadas na memória as duas últimas estrofes, que marcam não só
o orgulho de ser moçambicano mas também a vontade de o ser sem limites, sem
barreiras… Enfim, uma vontade que muitas vezes não passa disso mesmo, vontade!
(…)
Flores brotando do chão do teu suor
Pelos montes, pelos rios, pelo mar
Nó juramos por ti, oh Moçambique
Nenhum tirano nos irá escravizar
Moçambique nossa pátria gloriosa
Pedra a pedra construindo um novo dia
Milhões de braços, uma só força
Oh pátria amada, vamos vencer!
Não resistimos e levantámo-nos até porque a fome apertava os nossos
estômagos. Para além disso tinha frio e a garganta seca pelo facto de respirar
um pó bem fino, de que não dera conta na noite anterior. Pensei que estaria
doente pois era pouco comum fazer frio em Moçambique. Só depois me lembrei que
a Moamba fica situada no interior…
Ao encontrar as minhas colegas de missão, olhei para as suas caras e
deparei-me com duas pessoas assustadas, porque tinham escutado ruídos estranhos,
sobre as suas camas, no teto dos quartos. Chamaram-me para matar aranhas e
baratas que circulavam por todo o lado. Mas esta parte até se tornou divertida
pois acabámos por descobrir que a rede mosquiteira o quarto da Sandra
funcionava como uma engrenagem muito curiosa. Momento de “risota” único perante
aquele cenário o que até nos fez esquecer os bichos e os barulhos.
Mas os bichos não desarmaram. E… durante várias noites fomos acordadas
por guinchos sonantes que pareciam infindáveis, acompanhados de um calcorrear
no chão do teto falso, por cima das nossas cabeças, de onde constantemente caía
pó e emanava um cheiro bem desagradável. De vez em quando, ouvia-se um
estrondo, que mais parecia um disparo de arma pois, no silêncio da noite
qualquer ruído pode parecer muito mais amplo. Depois de termos desabafado sobre
esta nossa malfadada aventura, riram das nossas caras e com uma calma
irrepreensível disseram: “Ah! Isso são os morcegos. Disso é o que mais há aqui
na Moamba!”
Nesse dia, ao final da tarde, tivemos uma enorme surpresa ao ver sair,
por uma pequena fenda no telhado da casa dos voluntários morcegos… aos
milhares! Não é exagero. Eram tantos, tantos que, durante quatro minutos,
estivemos a filmar a sua saída, os seus voos rasantes sobre as nossas cabeças
para as suas deambulações noturnas, antes de voltarem para nos atormentar o
sono. Os estrondos que ouvíamos, frequentemente, e que nos fazia saltar da cama
eram as quedas monumentais daqueles bichinhos nocturnos que se deixavam dormir
e acabavam estatelados no chão.
Mas as nossas aventuras na Moamba, e que fazem parte da experiência de
voluntário, não se ficaram por aqui e vieram em catadupa, logo na primeira
semana. Confesso que, no início, me assolou algum receio que as minhas
companheiras de missão não aguentassem, pois não estavam habituadas a condições
de vida tão duras. Na hora do duche verificámos que apenas caíam umas pingas de
água barrenta de um chuveiro, improvisado de forma curiosa, pois estava ligado
à corrente para aquecer a água. Para uma das minhas companheiras, de longos
cabelos encaracolados, preparada para um duche quente e reconfortante, depois
de quase dois dias sem o ter feito, foi mais um choque: “Maria, vem cá ver! Não
sai água! E agora, como é que vou lavar o meu cabelo? O corpo ainda posso
limpar com toalhetes, mas o cabelo…” Parecia verdadeiramente desesperada e, com
a voz embargada, parecia querer resignar-se. Não a deixei continuar a
lamuriar-se. Também não nego que fiquei um pouco desiludida, pois um banho era
algo de que precisava! Mas nada de baixar os braços. Corri ao exterior e
encontrei um balde, enchi-o numa torneira e peguei num pequeno caneco. Pensei
“Já tenho uma alternativa, resta saber se a minha companheira não recusa um
banho de água fria”. Foi um momento que jamais esqueceremos. Eu e a Sandra, de
caneco na mão, íamos deitando água pela cabeça da Iva e lavando os seus longos
cabelos. Depois, fomos fazendo rodagem e cada uma fez a sua higiene, entre
comentários divertidos para aligeirar o momento de tensão que se tinha
instalado inicialmente.
E foi assim durante a primeira semana, até que fosse remendado o cano que
transportava a água até à nossa casa de banho e conseguíssemos ver água límpida
sair do chuveiro e embora pouca começou a ser um autêntico luxo. Uma verdadeira
lição para nós que estamos habituados a abrir a torneira e a ver jorrar água.
E se no início me custou encarar cada dia e também eu habituar-me às
dificuldades que iam surgindo, à medida que o tempo passava criava-se uma
cumplicidade entre as três. Apoiávamo-nos nos momentos de maior tensão e
desalento, ríamos das nossas figuras, partilhávamos os momentos e, todas as noites,
depois de nos despedirmos dos alunos e da comunidade, fazíamos um momento de
reflexão, um balanço do dia que acabara, as novas aprendizagens e
planificávamos o nosso trabalho para o dia seguinte. Foi uma espécie de ritual
que serviu para nos conhecermos melhor, para nos tornar cada vez mais unidas.
Estava formada a nossa irmandade.
Vista geral da estrada de acesso à vila
Casas da Vila
Avenida do Comércio (ria central da vila da Moamba)
As actividades foram decorrendo, ao longo das semanas, divididas entre as
aulas, as horas de estudo em que acompanhávamos os alunos, a formação dos
professores e a elaboração dos manuais de apoio ao professor e ao aluno, a vida
da comunidade, as saídas para as aldeias do mato, para visitas ou celebrações.
A Escola é de Ensino Profissional, uma das 6 que os salesianos têm em
Moçambique com o ensino de Carpintaria, Eletricidade, Serralharia, Agronomia, e
os alunos fazem os 2 anos de formação teórico-prática mais a formação em
Contexto de trabalho no último ano. É algo parecido com o nosso ensino
profissional, embora mais voltado para as profissões necessárias no país. Há
outras escolas com Mecânica, Construção Civil, Moda e Confeção. Depois desta
formação, os alunos podem continuar os seus estudos mais dois anos e prosseguir
para as universidades. São bastantes os casos de sucesso destes alunos, alguns
concluíram os estudos na Europa, outros no próprio país e tornaram-se
professores destas escolas. Os professores, embora tenham alguma preparação,
pois muitos deles foram formados por estas escolas, têm ainda um longo caminho
a percorrer no domínio de algumas metodologias e necessitam de mais materiais
para solidificarem as suas próprias competências.
Oficinas da Escola
Pátio
Brincadeiras na escola
Algumas vezes pudemos sentir que estávamos em plena savana africana. A
vegetação rasteira, seca, alguns animais percorrendo a imensidão, galinhas do
mato ou cobras a atravessar a “estrada” de terra batida e muito pó. Só se
circula por estas bandas de jipe e frequentemente é necessário sair para ligar
a tracção, que nestes carros é no seu exterior!
Aos domingos, quando íamos a comunidades mais afastadas, bem no meio do
nada, era frequente darmos boleia a todo o tipo de gente, desde polícias, a
mamãs carregadas de sacos, vindas das compras da vila ou a pessoas que se deslocavam
para outras aldeias.
A ida a Tenga (comunidade do mato) foi um momento muito marcante. Para
além da viagem pela savana, numa estrada de terra, esburacada como uma rede de
pesca, cruzando-nos, de quando em vez, com um camião gigante que quase nos
atirava para o meio do mato, sentia os enjoos típicos de uma viagem atribulada,
num jipe apinhado de gente. Mas a chegada à comunidade fez esquecer o percurso
sinuoso. Trata-se de uma pequena comunidade afastada da vila da Moamba, bem lá
no meio da savana. Umas tantas árvores e outras tantas palhotas compõem esta
comunidade, sobretudo constituída por crianças e pessoas idosas. Um dos nossos
jovens sai do jipe e toca com um ferro noutro ferro pendurado numa árvore. É o
anúncio da nossa chegada e o chamamento para a celebração. Ali perto, já se
encontram umas quantas mamãs e crianças que nos acolheram com sorrisos bem
largos. Eram cerca das 8 da manhã quando chegámos. E dali a pouco já se reunia
uma pequena multidão.
A maior surpresa é aquilo a que o padre que nos levou chamou “a catedral
de Tenga”. Esta capela, completamente construída em caniço, dos lados e no
tecto, com uma iluminação natural fantástica, graças ao material de construção.
O altar é uma mesa em madeira, com uma toalha de capulana e os bancos, esses
são de uma originalidade ímpar! Pequenos troncos de madeira, apoiados em outros
troncos de madeira, num chão de areia limpíssimo. Ao fundo, as esteiras servem
de assento às mulheres mais idosas.
Sentámo-nos nos confortáveis bancos de tronco de madeira e ouvimos
cânticos, acompanhados do batuque, das palmas e das danças das crianças. A
celebração foi feita em língua local – Ronga – e as apresentações finais, as
das três voluntárias, bem como as diversas questões que nos colocaram foram
sendo traduzidas em Português por um senhor de provecta idade. No final, houve
festa e convívio, que infelizmente não pode durar muito pois outra comunidade aguardava
a nossa chegada para outra celebração.
Pessene fica a meio do caminho entre a Moamba e Tenga. Ali, numa velha
escola, sem portas nem janelas, nos restos das carteiras, onde outrora se
sentavam as crianças da escola, sentam-se agora os crentes que vêm à celebração
da palavra. Mas, desta vez tive alguma dificuldade em manter-me dentro da
improvisada igreja. O cheiro intenso dos excrementos de morcego, acrescido ao
facto de já estar um pouco enjoada das constantes inconstâncias do caminho
(coisas de ocidental!!!) e de algum calor que se começava a sentir, fez-me
passar quase todo o tempo no exterior. Aproveitei para dar uma volta por aquela
comunidade. Sem luz, nem água, nem casas de banho, as palhotas são de uma
simplicidade e humildade que me fazem pensar no fausto em que vivo o meu
quotidiano. Como sou curiosa e algo atrevida, fui metendo conversa com as
pessoas que encontrava e que acharam estranha a minha presença ali. Expliquei
que era voluntária dos salesianos e acolheram-me como se me conhecessem desde
sempre. As palhotas, com apenas duas divisões separadas por uma capulana – o
local onde se dorme e aquele onde se reúne a família - têm, no exterior, um
espaço que serve de cozinha, onde normalmente se preparam as refeições, com carvão
ou uma pequena fogueira. Ao lado a latrina, que serve também de local onde se
toma banho, com um balde e um pequeno caneco. Em redor de cada palhota ficam as
pequenas machambas, onde se cultivam alguns produtos para consumo caseiro,
quando as condições climatéricas são favoráveis.
Nestes locais, a vida segue o ritmo do tempo, do dia-a-dia. E recordo a
citação do livro de Mia Couto,
O Outro pé da Sereia: “
Para nós Africanos o tempo é todo nosso. O
branco tem o relógio. Nós temos o Tempo.” O dia começa bem cedo, com as
lides domésticas e com as crianças a partir para a escola, tendo por vezes que
percorrer mais de sete quilómetros a pé para iniciarem as aulas pelas sete da
manhã. Vemo-los com uma sacola às costas onde têm cabimento um livro de textos
que já passou por muitas mãos, um caderno, onde bailam as preciosas letras e os
números mágicos, uma caneta e um lápis. As mamãs partem para a machamba, para o
mato apanhar lenha para fazer carvão ou para o rio, em busca de água ou para
lavar as roupas. Os pais ou estão fora, sobretudo na África do Sul, Suazilândia
ou Zimbabué nas minas e nas fábricas, ou estão espalhados por Moçambique a
trabalhar, em busca de melhores condições para as suas numerosas famílias.
A caminho da escola
A escola
A vida no campo
Carregando água
Tomando conta do maninho!
Quando regressam da escola, as crianças entretêm-se a cuidar dos animais,
da machamba, a fazer aqueles penteados exóticos a que todos achamos imensa
graça, ou a brincar, com uma bola de trapos, com jogos por si inventados e
criados, até que o sol se esconda e a noite se aproxime. Como não há luz eléctrica,
depois da refeição, entretanto preparada pelas mamãs ou pelas avós, todos se
recolhem, pairando um silêncio um tanto assustador, parecendo que todo aquele
fervilhar de vida desapareceu da face da terra. Este silêncio é apenas
interrompido pelos sons da noite, emitidos pelos animais que a povoam e que
rondam as aldeias.
Por vezes, a comunidade reúne-se, em redor de uma fogueira, para decidir
os destinos da aldeia, resolver problemas da comunidade, fazer celebrações, ou
partilhar vivências e contar histórias, fazendo-nos sonhar com uma África
idílica, onde o soba da aldeia conta histórias fantásticas, que povoam o nosso
imaginário. Mas a mística e o idílico dão lugar sobretudo a preocupações dos
mais velhos sobre os assuntos da aldeia, a distribuição de comida aos mais
carenciados, a ajuda na construção de habitações, o acolhimento de uma viúva e
dos seus filhos, as tarefas a distribuir pelos diversos membros. É, de facto,
curioso, como numa região tão carenciada se consegue ser tão solidário, tão
unido e se encontra sempre uma saída para os problemas. Contudo, infelizmente,
não se conseguem resolver todas as situações.
Outro momento marcante vivido na Moamba, foi no domingo em que fizemos um
passeio até ao rio, com os alunos internos da nossa escola. São cerca de seis
quilómetros de estrada, que percorremos a pé, entre cantos, jogos e conversas.
Connosco levávamos um lanche, que foi passando de mão em mão para que ninguém
fosse sobrecarregado.
A caminho do rio
A chegada ao rio foi um momento de delírio para os jovens que, apesar de
terem ido todo o caminho a dizer que este estava pejado de crocodilos, se
lançaram sobre as águas como se há muito não tivessem usufruído desta
liberdade. Depois, entretiveram-se com inúmeros jogos, como futebol, o jogo da
corda, vários jogos de grupo, em que participámos também. O facto de me terem
dito que havia crocodilos no rio manteve-me à distância das águas, apetecíveis
é certo, mas temíveis. Ainda hoje duvido da veracidade da existência desses
animais naquele rio, o certo é que não arrisquei. E ouviram-se algumas
histórias de pessoas, sobretudo crianças, atacadas por crocodilos, perto do rio
e na machamba que pertence à nossa escola. Por isso, antes prevenir…
O regresso no camião
Depois do lanche aproximava-se a hora de partir. Tinha chegado o vovô
Oliveira com o camião para nos levar de volta à escola. O sol ia declinando no
horizonte e, quando estávamos todos em cima do camião, foi uma explosão de
alegria aquilo que presenciámos. Um grupo de jovens, cheios de energia, mesmo
depois dos mergulhos no rio, das corridas e dos jogos, cantava e pulava em cima
do camião. Por entre cantos em Português e Ronga, gritos somo “Força, Oliveira,
quem paga sou eu”, incentivando o condutor do camião a acelerar, houve um
momento de silêncio profundo e intrigante. De repente, alguém gritou: “Atenção!
Cemitério!”. Toda a gente se calou e, enquanto passávamos pelo local de repouso
dos seus mortos, que tanto respeitam, não se ouvia senão o ruído do motor do
camião. Entreolhámo-nos, as três voluntárias, pois aquele sinal de respeito
pelos seus antepassados era algo que nos marcava profundamente. Mais uma lição,
mais uma aprendizagem, sobre um povo com uma cultura própria e crenças que
respeito verdadeiramente. Depois de termos passado o cemitério e deste momento,
rebentou de novo a alegria, continuaram-se os cantos até à chegada à escola. Entretanto
já havia anoitecido. Os jovens despediram-se de nós e foram estudar um pouco
enquanto aguardaram a hora do jantar. Que dia! Quantas emoções! Quantas lições
de vida!
Um dia falava aos então meus alunos da Escola Profissional da Moamba
sobre o meu dia-a-dia em Portugal, sobre os meus alunos e a minha escola,
porque me questionavam constantemente sobre isso, mas também sobre a Europa, a
minha região, a cultura, os hábitos… É normal. Têm curiosidade de saber como
vivem outras pessoas, iguais a eles mas também muito diferentes.
Depois de lhes ter dito que, por vezes, sentia uma desmotivação crescente
dos meus alunos pela escola, que estes tinham outros interesses, outros
divertimentos, outras motivações e que, frequentemente, a escola era vista como
uma prisão, uma obrigação, um lugar onde estavam porque os pais, ou a própria
sociedade assim o impunham. Enquanto os outros continuavam a questionar-me,
entusiasticamente, reparei que um dos alunos ficou calado e um tanto
apreensivo. Vi-o baixar a cabeça, pensativo. Ao contrário do que era habitual,
saiu da sala sem se despedir, o que normalmente fazia com entusiasmo e um
sorriso contagiante que me deixavam a pensar: “ganhei o dia”. Julguei que o tinha
magoado por falar em coisas que muito dificilmente estes jovens possam vir a
ter, luxos que para nós são banalidades. Muito honestamente senti-me mal e
decidi que talvez fosse melhor não voltar a tocar em assuntos que pudessem
melindrar aqueles jovens que não têm quase nada.
Passados uns dias, o Armando, o tal aluno, entregou-me dois textos e
disse-me: “Professora Maria, gostava que quando chegasse a Portugal lesse isto
aos seus alunos.”
O texto relata o seu dia-a-dia, o seu esforço para ser bom aluno e
atingir os seus objectivos. O poema é um apelo urgente à necessidade de
estudar. Reproduzo-os tal como os recebi, com a autenticidade do seu autor, com
a originalidade de um jovem que ser engenheiro civil e que tem potencial para
isso!
“Caros amigos:
Começo por dizer que a boa vida não
é como uma doença, que vem sem que a esperemos e que a sabedoria preserva a
vida de quem a possui. Agora escutem um pouco de nós.
Nós ganhamos o nosso curso a um
grande custo. Por dia vou à escola três vezes. Primeiro das 7h até às 12h 30.
Depois vou para casa, carto água a uma distância de 500 m e volto. Lavo a
louça, limpo o chão e cozinho. Quando não tenho que cozinhar, como soja ou
farinha de mandioca. Volto para a escola às 14h 30. As aulas terminam às 16h
05. Volto novamente a casa e cozinho só arroz pelo motivo de o tempo ser curto.
Regresso à escola pelas 17h 30, onde fico até às 19h e 25 a estudar e a tirar
dúvidas com os professores e os meus colegas. No ano passado fui o melhor
aluno, no aproveitamento e no comportamento, da Escola Profissional da Moamba.
Por vezes, aos fins de semana vou a
Maputo – a 80 Km daqui – visitar a família e buscar comida. Como só encontro
25Kg de arroz, só posso trazer 5, um pouco de óleo, umas cebolas e uns caldos.
Muitas vezes, quando chega a meio da semana já não tenho que comer e vou a casa
dos amigos. Outras vezes, são eles que vêm a minha casa. Temos que pagar a
renda e a luz, e temos sorte por ter electricidade para poder estudar à noite.
Vocês deveriam sentir-se orgulhosos
por não ter que estar longe da família, ter televisão, ter livros e cadernos
para estudar, não ter que pagar renda de casa, comparar comida… Por favor,
valorizem os vossos professores, a vossa escola e a vossa vida. Se têm mais
possibilidades do que nós, então esforcem-se e apliquem-se sempre para
alcançarem os vossos objectivos e os vossos sonhos. Nunca procurem soluções
mágicas para os vossos problemas. Elas não existem no mundo real em que
vivemos. Não se esqueçam que o sucesso depende do trabalho.
Felicidades e força!”
URGENTE
É urgente estudar.
É urgente ser uma pessoa de
qualidade.
É urgente sentar-se na carteira.
É mesmo urgente levar horas atento
na sala de aula.
É urgente levar a sério o que o
professor diz.
É urgente e importante parar de
brincar e ficar sério.
É urgente matutar a cabeça por um
certo objectivo.
É urgente ver, julgar e depois
agir.
É urgente ser-se diferente.
É urgente descobrir novos
horizontes.
É urgente deixar a preguiça
E preparar-se arduamente para o
futuro.
É urgente…
Jovens do amanhã!
Armando Sorte (26/07/06)
Não resisti em fazer a experiência, logo no início do ano lectivo, e ler
estes textos aos meus alunos, nomeadamente aos que ainda não conhecia e que me
pareciam bastante desmotivados. Acho que alguns “sofreram um pequeno abanão.”
Outros, facilmente esqueceram e passaram ao lado destas mensagens sinceras e
sentidas. É assim mesmo. A vida continua, aqui na minha realidade, ainda que me
seja difícil desprender-me de determinados momentos vividos e do tanto que
acabei por aprender com aquelas gentes.
No final de quase um mês a lidar diariamente com muitos alunos, pois
íamos rodando quer nas aulas, quer na sala de estudo, muitas são as
experiências partilhadas, as amizades travadas. Por isso, as cartas e mensagens
de muitos dos alunos que, quer de forma pessoal se dirigiram a mim, quer de
forma colectiva, deixaram-me sem palavras.
Uma das cartas de despedida é do Armando Sorte, 17 anos, aluno do 2º ano
do Curso Profissional de Electricidade, evocando aquilo que significou a nossa
presença na vida da escola e dos alunos:
“Doce Professora:
A vida perderia o seu brilho se por
acaso não existissem pessoas simples, altruístas, humildes, simpáticas e
generosas como vocês. Eu juro que perpetuamente me lembrarei de si. Tem de
partir. Custa-me a acreditar. Mas é assim… O que tem o seu princípio tem o seu
fim.
Kanimambo, muito obrigado, e volte
sempre porque este Moçambique, eu sinto que também é seu.
Ni mbouguile.
Armando Sorte”
De um outro Armando, o Marcelo, também aluno do 2º ano, um dos melhores
alunos da Escola Profissional da Moamba, a carta que me deixou não poderia ser
esquecida. As palavras destes jovens espelham o seu estado de alma e
reflectiram-se no meu estado de alma quando a li e reli, no avião para Tete, no
avião para Portugal, em casa, tantas vezes desejando apanhar o avião de
regresso a Moçambique e poder abraçá-los de novo, estar e trabalhar com eles. É
tão diferente dar aulas a estes alunos!
“Para ti, professora Maria:
Com todo o respeito que tenho por
ti venho por este meio agradecer imensamente por tudo aquilo que fizeste por
mim e pelos meus colegas. E para dizer muito obrigado por tudo o que contigo
aprendi, pela sabedoria, pela ciência, pela inteligência, enfim pela companhia.
Deixaste a tua família, amigos e
vieste cá, em Moçambique, pelo amor que tens com os outros.
Aposto que um dia poderei esquecer
muitas coisas mas jamais esquecerei que, para além de seres professora de
Português, és um ser humano cheio de carinho que sabe dar aos outros. A tua
presença foi importante. Ao teu lado senti-me diferente.
Se eu fosse um mágico inventaria
imensas palavras para exprimir tudo aquilo que fizeste por mim, por nós, alunos
da Escola Profissional da Moamba. Mas não sou e por isso resta-me dizer, com
todo o carinho: Boa Viagem e volta sempre porque amei a tua presença no meio de
nós.”
Sem dúvida mensagens que me deixam sem palavras. São palavras simples mas
sentidas e com sentido, que merecem a devida reflexão. Estes jovens não estão
nesta escola por acaso. Estão porque merecem e querem um futuro melhor, porque
procuram o melhor para o seu país, porque querem lutar por ele, para que não
caia no esquecimento daqueles que detêm o poder. E têm consciência de que com
uma educação melhor conseguirão chegar mais além. O facto de frequentarem
cursos profissionais, torna-os aptos para uma profissão, mesmo que alguns deles
venham a optar, mais tarde, por cursos universitários, quando reunirem
condições monetárias para o fazer.
Sinto uma certa frustração quando, ao ler estas mensagens aos meus
alunos, alguns as ignorem, porque não vivem aquelas realidades, sempre tiveram
tudo de “mão beijada” e portanto, esquecem o que ouviram e seguem despreocupados,
pois alguém lhes há de indicar um caminho, uma saída. É assim aqui. Já nos
habituámos!
É com tristeza na alma que me despeço destas gentes e das minhas duas
companheiras que partiriam dali a dias para outro local, a 400 Km de Maputo.
Foi num domingo, a meio da tarde, no final de julho. Terminara a missa missão
naquela escola. Esperavam-me em outro lugar para mais três semanas de trabalho
com professores, alunos e computadores.
A separação das colegas de missão foi difícil, pois entre nós tinha-se
criado um clima de companheirismo e cumplicidade. Já nem era preciso pronunciar
muitas palavras, o que para mim era sempre complicado!, para que se instalasse
o diálogo. Era uma espécie de irmandade, com códigos de comunicação muito
próprios, que ficarão sempre registados nas nossas mentes.
Tinha que ser. Outro destino nos aguardava. Também lá precisavam de nós.
Não podíamos ser egoístas ao ponto de querermos ficar sempre juntas e no mesmo
local.
Nesse domingo, ao fim da tarde, visitei o Lar de S. José de Lhanguene,
para onde tinha ido a ajuda monetária da campanha em Portugal. Queria ver com
os meus olhos para comprovar que tinha valido a pena. Para minha surpresa,
todas as camas estavam já equipadas. Colchões condignos, lençóis, almofadas, um
cobertor e uma coberta, aos quadradinhos, colorida. Como estavam felizes os
meninos! Como fiquei contente com a sua felicidade! E em tom de brincadeira
diziam alguns: "Nós agora nem fazemos cena para ir para a cama pois
sabemos que vamos descansar bem!" Valeu a pena? E plagio Pessoa pois foi
grande a minha alegria: "Tudo vale a
pena/ Se a alma não é pequena". E tirei fotos para mostrar cá que
tinha mesmo valido a pena. Tivemos sorte, pois o dinheiro ainda não havia
chegado todo. Mas, do outro lado também queriam provar que confiavam em nós e
agradeciam o nosso gesto. Os meninos cantaram, dançaram, abraçaram-me e,
sobretudo, sorriram. E aqueles sorrisos encheram o meu coração e bailava este
pensamento na minha cabeça: "Como se pode ser feliz com tão pouco!" Aquilo
que se conseguiu foi fruto de uma grade união, solidariedade, força de vontade
e muito carinho de todos quantos contribuíra, em Portugal. Bem-haja a todos.